Conferência de Alfredo Brillembourg | Urban-Think Tank

O arquitecto Alfredo Brillembourg, fundador com Hubert Klumpner, do Studio Urban-Think Tank [U-TT], vai proferir, a 31 de Maio, 6ª feira, às 18h30, na FAUP, a conferência ‘El Arquitecto y la Ciudad’. 

U-TT, fundado em Caracas, Venezuela, em 1998, está, desde 2010, sediado no Departamento de Arquitectura D-ARCH da ETH de Zurique, onde os seus fundadores leccionam a Unidade curricular de Arquitectura e Desenho Urbano. Antes, Brillembourg e Klumpner lecionaram na Universidade de Columbia, onde fundaram o Laboratório de Modelo Urbano da Vida Sustentável [SLUM Lab]. O trabalho de ambos foi já agraciados com os Prémios Ralph Erskine 2010, Holcim Gold 2011 para a América Latina, Holcim Global Silver 2012 e com o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2012.

A conferência conta com o apoio da Forbo e Volcalis.

As cidades são a resposta…Qual foi a pergunta?

A arquitectura e o planeamento urbano não podem ser impostos de “cima para baixo” ou de “baixo para cima”. Planos e desenhos impostos de cima ignoram o que as pessoas realmente precisam e querem. Parte do problema tem simplesmente a ver com nomenclatura. Se uma entidade bem-intencionada conceder financiamento a um município para melhorar uma infra-estrutura, quem decide em que consiste essa infra-estrutura? Sem uma profunda e longa imersão na cultura e na vida dos locais, não podemos saber qual solução é apropriada e realmente útil. Por outro lado, as pessoas mais necessitadas normalmente carecem do poder e fundos para transformar as suas vidas e o seu futuro. 

Elas sabem o que querem, mas não têm meios para alcançá-lo, talvez nem mesmo uma maneira de defini-lo. Como Thomas B. Farrell escreveu: “Toda a cultura requer algum caminho para abordar e, assim, explicar as suas identidades, realizações e necessidades.” A arquitectura, adequadamente concebida e praticada, pode e deve ser essa via.

Também temos um problema de linguagem na tentativa de definir quem somos e o que fazemos. Em primeiro lugar, projectamos, no sentido mais amplo: concebemos, inventamos, planeamos, desenhamos, criamos, compomos, pretendemos. Projectar, como queremos dizer, é fazer uso de qualquer projecto, intuição e razão, imaginação e lógica, palavras e imagens. Em relação a trazer uma ideia para a fruição, realizando um projecto, nós somos o fulcro, o elo, o mediador, o facilitador, o construtor de consenso. O nosso papel é criar conexões entre todos os constituintes de um plano e uni-los num propósito comum.

Dito isso: a política é poder e, como Lord Acton observou em meados do século XIX, “o poder tende a corromper”. Ironicamente, Acton era um político – mas talvez isso lhe desse a melhor perspectiva. O maior mal que aflige o sul global é a corrupção, impulsionada pelo desejo de reter o poder e aumentar a riqueza.

Revolução não é a resposta. Transformação é. A revolução opõe as pessoas e os grupos uns contra os outros, colocando os vencedores no poder e os derrotados atrás da cortina. A transformação requer participação e colaboração através de barreiras políticas, sociais, culturais e económicas.
Durante décadas, os arquitectos lamentaram a perda de primazia no projecto de edifícios e cidades. Eles não estão totalmente errados. O problema maior, acreditamos, tem sido o fracasso de grande parte da profissão e das escolas que treinam futuros profissionais para ver a arquitectura potencialmente como o motor da mudança social. Não somos contra o projecto de torres icónicas quando as taxas assim obtidas são usadas para financiar projectos transformadores. Os arquitectos têm as habilidades e o conhecimento para melhorar vidas e revitalizar cidades. Estamos felizes em ver que mais e mais dos nossos colegas estão a fazer isso.

Acreditamos fervorosamente na cidade – não como é, mas como pode ser, como esperamos que seja. A nossa cidade futura considera as pessoas primeiro: quem são elas? O que falta na condição urbana que elas mais precisam? Como podemos melhorar as suas vidas? Assim como o grande arquitecto americano Louis Sullivan cunhou a frase “A forma segue a função”, dizemos que a infraestrutura segue o objectivo. O nosso objectivo é criar os meios pelos quais as pessoas se movem facilmente, usando uma variedade de modos; possibilitar encontros fortuitos entre pessoas de diferentes estratos sociais e económicos e culturas variadas; misturar, misturar e envolver para garantir a maior diversidade possível; e elevar a qualidade de vida para aqueles que estão nas margens da sociedade.

Alfredo Brillembourg [tradução de Susana Rosmaninho]

Alfredo Brillembourg nasceu em Nova Iorque em 1961. Licenciado em Arte e Arquitectura em 1984 terminou o Mestrado em Projecto de Arquitectura em 1986 na Columbia University. Completou, em 1992, uma pós graduação em Arquitectura na Universidad Central de Venezuela, em Caracas. Desde 1994, é membro da Associação de Arquitectos e Engenheiros Venezuelanos. Foi professor visitante em várias universidades, incluindo a Universidad José Maria Vargas, Universidad Simon Bolívar e a  Universidad Central de Venezuela. Com Hubert Klumpner fundou em 1998, em Caracas, o Urban-Think Tank [U-TT], e em 2007, enquanto professor convidado na Graduate School of Architecture and Planning at Columbia University, o Sustainable Living Urban Model Laboratory [S.L.U.M.]. A partir de 2010, leciona no D-ARCH da ETH de Zurique a Unidade curricular de Arquitectura e Desenho Urbano. O seu trabalho com Hubert Klumpner foi já agraciado com os Prémios Ralph Erskine 2010, Holcim Gold 2011 para a América Latina, Holcim Global Silver 2012 e com o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2012. O u-tt, em 2018, venceu o UN-Habitat Best Practice Award for Slum Upgrading e foi nomeado para o RIBA World´s Best Building com o projecto para Khayelitsha, na África do Sul.

u-tt.com

A conferência será proferida em espanhol, sem tradução.

Entrada livre (sujeita à lotação da sala).